O Estado de São Paulo

Seção: Geral

Data: 26 de julho de 2000

Autor: Roberta Pennafort

Drogas antigas para pressão alta são eficientes e mais baratas

Elas custam oito vezes menos que os remédios modernos e produzem os mesmos efeitos

RIO - Medicamentos antigos e baratos contra a hipertensão são tão eficazes quanto os mais modernos e caros. A conclusão é de uma equipe de pesquisadores suecos que desenvolveram testes com idosos hipertensos e será discutida no Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que começa domingo, no Rio. Segundo o secretário-geral eleito da Sociedade de Cardiologia do Estado, Augusto Bozza, os remédios modernos custam, em média, oito vezes mais que os tradicionais.

De 1994 a 1998, centenas de pesquisadores de quatro universidades da Suécia, coordenados por Lennart Hansson, da Universidade de Uppsala, acompanharam 6.600 hipertensos entre 70 e 84 anos submetidos a três tratamentos distintos: um a base de diuréticos e betabloqueadores (que eliminam o sal do organismo), outro com inibidores da enzima da conversão (causadora da hipertensão) e um terceiro com antagonistas do cálcio (vasodilatadores). "Os efeitos verificados foram exatamente os mesmos", afirmou Bozza. O resultado foi publicado recentemente na revista Lancet.

O médico informou que uma caixa com 48 comprimidos de diurético e betabloqueadores (Propranolol e Atenolol estão entre os mais usados) custa R$ 4, enquanto 20 drágeas dos inibidores da enzima da conversão (Captopril, Enalapril e Lisinopril) e os antagonistas do cálcio (como Nifedipina e Felodipina) saem por cerca de R$ 35. "As pessoas tendem a achar que os remédios mais novos são melhores e, com isso, acabam pagando muito mais, sem necessidade", disse. "Voltar aos mais antigos significa uma grande economia para o Estado e os pacientes."

Segundo Bozza, a maioria dos hipertensos abandona o tratamento por causa do alto preço dos remédios. "O Brasil deveria seguir o exemplo da Suécia, que, mesmo sendo um país rico, se preocupa com o corte de custos na compra de medicamentos", afirmou. O 3º Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial, de 1998, já preconiza que as drogas mais indicadas para o combate à hipertensão são os diuréticos e betabloqueadores, informou Bozza. "Médicos norte-americanos também pregam esta prática." Ele ressaltou que nem todos os pacientes podem tomar tais remédios. "Eles são proibidos para diabéticos."