O Estado de São Paulo
Data: 04 de Abril de 2004
Brasileiro cria micro-robô para cirurgia
cardíaca
Micro-robô tratará arritmia cardíaca com mais precisão e menos
riscos para o paciente. Projeto envolve quatro países: Bélgica, França,
Alemanha e Grã-Bretanha
Bruxelas
- Um brasileiro está à frente de uma
nova aplicação da micro-robótica à cirurgia cardíaca. Com equipes
de três centros de pesquisa europeus, o médico André Scattolin Faure,
de 39 anos, desenvolve um micro-robô para tratar fibrilação atrial -
tipo de arritmia, caracterizada pelo batimento cardíaco acelerado e
irregular das câmaras superiores do coração (os átrios).
Participam do desenvolvimento do protótipo centros da Bélgica, França
e Alemanha, além de uma empresa britânica. O instrumento permitirá
maior precisão do procedimento, menos riscos para pacientes, menor
tempo de cirurgia e de pós-operatório.
Malha de eletrodos
O protótipo de Faure distingue-se dos demais robôs cirúrgicos
disponíveis no mercado graças ao formato de sua ponta. Enquanto os
atuais têm instrumentos cirúrgicos convencionais miniaturizados, como
pinças ou tesouras, o novo modelo carregará uma malha flexível de
eletrodos, que se ajustará ao formato do coração. Os eletrodos
cauterizam regiões do átrio doente, restabelecendo o ritmo cardíaco
normal.
Faure espera ver seu protótipo montado ainda este mês, quando começará
a testá-lo em animais.
O micro-robô é composto por um braço que faz uma incisão de 1
centímetro no peito do paciente. Com diâmetro pouco maior do que o de
uma caneta, o braço penetra no átrio, com o coração em
funcionamento. Lá dentro, a malha de eletrodos é aberta e ajustada ao
formato da câmara a ser tratada.

Cauterização
Os eletrodos cauterizam locais específicos da parede do átrio,
corrigindo a fibrilação. Ao lado da mesa cirúrgica, o cirurgião
opera com a ajuda de dois joysticks.
Durante todo o procedimento, ele permanece sentado em frente de um
console, acompanhando a intervenção, reconstituída em imagens de três
dimensões numa tela. As imagens são captadas por uma sonda ecográfica,
inserida no esôfago do paciente.
"A técnica não apresenta riscos desconhecidos, já que a
penetração no átrio cardíaco sem parar o coração não é novidade
e o uso de rádio freqüência para produzir barreiras aos impulsos
anormais é um método seguro e eficaz", diz Faure. "A diferença
reside no instrumental, que fará incisões mínimas e reproduzirá a
eficiência equivalente ao obtido na cirurgia de coração aberto."
Mestrado
Faure desembarcou em Bruxelas, há três anos, para apresentar sua idéia,
a convite do especialista Guy-Bernard Cardière. Estava desenvolvendo o
trabalho em seu mestrado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA).
Na platéia, funcionários do governo belga, responsáveis pela política
científica, se interessaram pelo projeto, o que rendeu ao médico
brasileiro o financiamento de US$ 1,85 milhão. O recurso cobre os
custos até a fase final do micro-robô, prevista para acontecer no
segundo semestre deste ano.