Diário de São Paulo

Data: 29 de junho de 2003

Limite da OMS para o álcool é de 30 g 


Consumo não pode superar o equivalente a três copos de chope ou apenas uma dose de uísque por dia. 
Para quem costuma beber diariamente mais de duas latas de cerveja ou duas doses de destilado, como uísque ou pinga, aqui vai um alerta: o nível de álcool presente nessas quantidades de bebida está acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), podendo causar danos ao organismo. De acordo com os especialistas, as pessoas saudáveis podem consumir, no máximo, 30 gramas de álcool por dia. 


Isso significa tomar até três copos de chope, consumir pouco menos de duas latas de cerveja ou ingerir apenas uma dose de pinga ou uísque”, comenta o cardiologista Abrão José Cury Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica da Regional São Paulo (veja quadro abaixo). 

Segundo o especialista, essa quantidade de bebida raramente prejudica a saúde do fígado ou do coração. Ao contrário. Baixas doses de álcool estão associadas ao menor índice de infarto, pois dificultam a adesão de placas de gordura nas paredes das artérias. O vinho, em particular, ainda tem os flavonóides, substância que aumenta a concentração do bom colesterol (HDL). 

Se a pessoa for hipertensa ou tiver diabetes, esses benefícios não existem e o álcool terá um efeito totalmente maléfico. Esse paciente nem mesmo pode beber”, acrescenta o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Juarez Ortiz. Consumo acima de 30 gramas de álcool por dia também causa efeito inverso e pode provocar miocardiopatia alcoólica (dilatação do coração). 

O especialista conta ainda que nenhum médico deve estimular o consumo de bebida alcoólica como método de prevenção de doenças cardiovasculares. “Dizemos o seguinte ao paciente: se você bebe, não ultrapasse o limite recomendado”, comenta Ortiz. “Inclusive, alertamos que é bastante perigoso misturar álcool com medicamentos, principalmente os calmantes”, completa. 

Vício

Quem insiste no consumo diário de bebida alcoólica deve ter cuidado redobrado. Segundo a psiquiatra Ana Cecília Roselli Marques, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), essas pessoas correm o risco de se tornarem dependentes. “Beber freqüentemente (mais do que seis dias por mês) pode deixar muita gente tolerante ao álcool”, explica a médica, que faz parte da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead). 

Ana Cecília conta que a OMS considera todas as substâncias psicotrópicas, inclusive o álcool, arriscadas. “Qualquer quantidade pode provocar reação no organismo”, ressalta a psiquiatra. “Mas, como é praticamente impossível acabar com a ingestão de álcool no mundo, procurou-se determinar uma dose de baixo risco”, acrescenta a médica. 

De acordo com o psiquiatra Marcos Zaleski, vice-presidente da Abead, o organismo demora cerca de uma hora e meia a duas horas para eliminar o efeito dos 30 gramas de álcool. “Seria um pouco mais seguro se o indivíduo conseguisse demorar esse tempo entre uma dose e outra, principalmente se pretende dirigir”, comenta. 

É preciso lembrar que consumir uma quantidade excessiva de álcool, mesmo que de vez em quando, faz mal para o cérebro, o fígado, a pressão e pode da mesma forma viciar. Como as mulheres não costumam tolerar muito bem os efeitos da bebida, os médicos recomendam que o público feminino tome apenas uma dose de bebida sempre que ingerir álcool.