|
Estado de São Paulo
Data: 12 de abril de 2006
Mais rigor no diagnóstico de pressão alta
Médicos sugerem monitoramento por mais tempo, para evitar os atuais
20% de erro na detecção da doença
Adriana Dias Lopes
Não basta só medir a pressão no consultório. O hipertenso é aquele que
mantém a pressão alta em mais da metade do dia, nas mais variadas
situações, como em casa, no trabalho e até durante o sono. Por causa
disso, o monitoramento da doença que atinge 30 milhões de brasileiros
será uma das recomendações da nova diretriz sobre pressão. O documento
vai ser apresentado por entidades médicas no Dia Nacional de Prevenção e
Combate à Hipertensão Arterial, no dia 26.
"Hoje, cerca de 20% dos diagnósticos da doença são incorretos", avisa
Décio Mion, um dos coordenadores da nova diretriz e chefe da Unidade de
Hipertensão do Hospital das Clínicas em São Paulo. A porcentagem faz
parte do chamado efeito do avental branco, uma síndrome em que a pressão
do paciente sobe na hora da consulta médica.
"Num ambiente de tensão, o cérebro envia sinais de alerta para o corpo,
como se ele estivesse em perigo, e a pressão sobe", explica o
cardiologista Marcus Bolívar Malachias, professor da Faculdade de
Ciências Médicas de Minas Gerais. Na prática, esses sinais cerebrais
estimulam a produção de hormônios, como a noradrenalina, que contraem os
vasos sanguíneos e aceleram os batimentos cardíacos. A pressão sobe como
uma reação de alarme, camuflando o diagnóstico.
Um dos exames indicados é o Monitoramento Ambulatorial da Pressão
Arterial (Mapa). Um aparelho no tamanho de um walkman conectado ao braço
mede a pressão a cada 15 ou 20 minutos, incluindo a noite. "Durante o
sono a pressão tem de ser sempre menor em pessoas normais. Trata-se de
uma proteção cardiovascular. O coração tem de descansar", avisa Mion.
"Quando a pressão não é mais baixa durante o sono, o risco de derrame,
enfarte ou alteração nos rins sobe em 10% a 20%."
Outro exame indicado na diretriz é o Monitoramento Residencial de
Pressão Arterial (Mrpa), quando o próprio paciente faz o exame em casa,
em aparelhos digitais pré-programados pelo médico. Em geral, a medida da
pressão é feita duas vezes ao dia, por 72 horas.
DE RISCO
Outra novidade do documento é a determinação de índices de diagnósticos
para grupos de risco, aqueles que têm doenças que aumentam as chances de
problemas circulatórios. A recomendação para o diabético, por exemplo, é
que a pressão deve ser mantida em até 13 por 8.
A medida é igual para quem sofre de síndrome metabólica - conjunto de
doenças que provocam alterações no metabolismo. Para doenças renais, o
ideal é 12 por 7. Em pacientes normais, os médicos recomendam que a
pressão fique abaixo de 14 por 9. Apesar do alarde internacional para
reduzir a 12 por 8 a pressão normal, valores um pouco mais altos
continuam sendo aceitos na diretriz . "Muitos se apavoram com índices de
13 por 8. Claro que é ótimo ter índices menores. Mas, na maioria dos
casos, se estiver abaixo de 14 por 9, tudo bem", avalia Malachias.
A nova diretriz também vai indicar que um hipertenso não pode ser
tratado só como hipertenso. "Tratamentos com remédios não devem mais ser
baseados só no nível da pressão", avisa o cardiologista Fernando Nobre,
da Sociedade Brasileira de Cardiologia, também um dos coordenadores do
documento.
Cerca de 90% dos diabéticos e aqueles que sofrem de insuficiência renal
têm hipertensão. Mais de 50% dos que sofrem de síndrome metabólica têm
pressão alta. Um dos critérios de escolha dos três grupos de risco foi o
fato de que eles podem ter medidas de pressão padronizadas.
A aposentada América Pinheiro Ramos, de 76 anos, é diabética desde os 38
anos. Aos 40, descobriu que era hipertensa. "Minhas medidas chegam a 22
por 12 e não tenho sintomas", diz. "Vou medir no consultório a cada dois
meses."
A primeira diretriz em hipertensão foi criada em 1990. Desde então, a
cada quatro anos, três entidades médicas - SBC, Sociedade de Hipertensão
(SH) e Sociedade de Nefrologia (SF) - se reúnem para discutir e
atualizar as recomendações com base em documentos científicos nacionais
e internacionais.
|
|