Quem tem medo das dietas? É um sacrifício abandonar tudo que se gosta
de comer e ficar na saudade.
"Abusei! Comi muito mocotó, muito pé de porco", admite seu Silvio.
"Nossa! Eu adorava um bife", acrescenta uma paciente.
"É uma delícia, mas eu não posso comer mais", lamenta outra paciente.
"Custou caro, mas a minha saúde é mais importante. Viver é melhor do que
comer. Então, eu quero viver!", conclui ela.
Nem todos pensam assim. Muitos preferem viver perigosamente. Uma
pesquisa apoiada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), feita
com 400 mulheres paulistas, concluiu que 44% delas tinham taxas de
colesterol elevadas e não se cuidavam. Mesmo com os riscos do excesso de
gordura no sangue, diabetes e hipertensão arterial, apenas 8% faziam
controle.
Como combater esses inimigos do coração? Uma equipe de pesquisadoras,
da qual faz parte a nutricionista Márcia Nacif, elaborou uma dieta que
não assusta: a dieta de pontos do colesterol.
Nessa dieta não há alimento proibido. Pode-se comer de tudo um pouco.
Carne assada, por exemplo, para quem não abre mão da carne vermelha. Mas
o prato deve ser acompanhado apenas de duas colheres de arroz, um pedaço
de torta salgada e uma concha de feijão. Existe um limite para a
ingestão diária de gordura e colesterol.
"Esse prato tem 13 pontos: 5 pontos para a carne; 2 pontos para o
arroz; 1 ponto para o feijão e 5 pontos para a torta salgada. Esse total
faz parte de uma dieta diária de 27 pontos", calcula a nutricionista
Márcia Nacif.
Esse prato pode satisfazer os desejos, mas não atende às
necessidades. "Se de vez em quando a pessoa quiser consumir esse prato,
tudo bem. Mas ela não pode esquecer que também deve consumir alimentos
que são fonte de fibras, vitaminas e minerais: as hortaliças", ressalta
a nutricionista.
A nova dieta foi recomendada, inicialmente, para um grupo de 20
pacientes de São Paulo. Não se trata de uma dieta, já conhecida, que
também usa pontuação para a caloria dos alimentos. A tabela feita pelas
nutricionistas da Universidade de São Paulo (USP) leva em conta o
colesterol, mais presente nos alimentos mais gordurosos.
"Se a pessoa diminui a ingestão desses alimentos, acaba emagrecendo.
Mas essa dieta não é para perda de peso e sim para o controle de
colesterol", lembra a nutricionista.
Na dieta do colesterol, as hortaliças têm zero ponto, ou seja, podem
ser comidas à vontade. Quanto mais colesterol tem o alimento, maior a
pontuação na tabela. Confira:
- um pãozinho francês: 1 ponto
- uma fatia pequena de queijo mussarela: 3 pontos
- um filé de frango grelhado: 5 pontos
- uma fatia de bolo de aniversário com cobertura: 6 pontos
- um bife: 12 pontos
- um bife à parmagiana, com cobertura de queijo: 22 pontos
O total de colesterol recomendado para um dia inteiro, de acordo com
a dieta, é de 30 pontos para os homens e 25 pontos para as mulheres de
até 55 anos. Para quem já passou dessa idade, recomenda-se moderação
ainda maior: são 27 pontos para os homens e 22 pontos para as mulheres.
Seu Sílvio, que gostava de mocotó, aderiu à dieta depois do terceiro
infarto. A aposentada Aparecida Silva é fiel à tabela dos pontos. Num
caderninho estão anotados os pontos de toda e qualquer refeição. Mas
essa é uma história que também começou no Hospital do Coração, dois anos
atrás. A aposentada, de 59 anos, estava com o colesterol elevado.
"Eu era magrinha, fazia exercício, mas não tinha um controle médico.
Minha pressão estava alta e chegou a 22 por 12. Aí, o posto de saúde e o
pronto-socorro não deram jeito", conta ela.
Depois de seis meses de dieta e uso de medicamento, o colesterol caiu
pela metade. "Minha pressão nuca mais foi a 20", comemora dona
Aparecida.
O grupo de pacientes submetidos à dieta do colesterol perdeu, em
média, 4% do peso corporal.
"Tenho mais disposição e estou trabalhando direto. Cheguei a ficar
dois meses em casa, sem trabalhar", conta o taxista Elias de Souza.
E qual seria a solução? As pesquisadoras da USP também acompanharam
um grupo de pacientes que fizeram dieta convencional, aquela onde quase
tudo é proibido.
"Depois de certo tempo, a pessoa não conseguia mais seguir a dieta
porque era muito restritiva", diz Márcia Nacif.
Com isso, a redução do colesterol foi 20% maior no grupo que seguiu a
tabelinha dos pontos.