Panorama do Risco Cardiovascular e da Reabilitação Cardíaca em Portugal e no Brasil
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de São Paulo e em várias capitais e cidades maiores. O Dr. Fehér teve ainda
papel fundamental junto à Funbec, Fundação Brasileira para o Desenvolvimento
de Ensino de Ciências, ligada à Universidade de São Paulo e dirigida pelo Dr.
Isaias Raw, na produção de monitores cardíacos, eletrocardiógrafos e cicloergó-
metros, o que permitiu, a custos mais baixos, a instalação de Serviços de Ergo-
metria, necessários para a implementação dos programas. Teve papel funda-
mental nessa empreitada o engenheiro Albert Holzhacker, que posteriormente
fundou uma empresa de monitores cardíacos e eletrocardiógrafos, já na era
digital nos anos 80, permitindo a necessária atualização tecnológica brasileira
numa época em que era difícil e dispendiosa a importação de produtos similares
estrangeiros. Todos estes fatores fizeram com que os serviços de ergometria e
de reabilitação cardíaca se pudessem expandir de modo expressivo no territó-
rio brasileiro. Na década de 80, os progressos da cardiologia diagnóstica, com o
advento da ecocardiografia e medicina nuclear aplicada à cardiologia e a difusão
dos serviços de hemodinâmica e cirurgia cardíaca, financeiramente mais rentá-
veis e aparentemente mais resolutivos, fizeram com que muitos programas de
reabilitação fossem desativados. O baixo retorno financeiro, as grandes limita-
ções impostas pelas fontes pagadoras dos doentes em reabilitação e o receio do
cardiologista em perder o seu doente foram barreiras importantes, na década
de 90, para que a reabilitação no Brasil não tivesse o incremento observado
nas duas décadas anteriores. Essas mesmas barreiras persistem de certo modo
desde então e são, no nosso entendimento, fatores primordiais para que as
necessidades não sejam supridas. Custos, distâncias, trabalho e responsabili-
dades familiares foram ainda barreiras identificadas numa pesquisa realizada na
cidade de Florianópolis no Estado de Santa Catarina e numa comunidade rural
do mesmo estado
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O sistema de saúde brasileiro hoje é constituído pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), pela Saúde Complementar e ainda, minimamente, pelo livre paga-
mento dos serviços aos profissionais de saúde e aos estabelecimentos. O SUS,
garantido pela constituição de 1988 que reza: «A saúde é direito de todos e
dever do Estado...» atende cerca de 154 milhões de brasileiros (77% da popula-
ção) e a Saúde Complementar cerca de 47 milhões (23%). O seu financiamento