Disfunção sexual, doenças cardiovasculares e exercício físico
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Vida sexual do doente cardíaco: riscos, benefícios e critérios
De um modo geral, após um evento cardiovascular
major
, cirurgia cardíaca,
descompensação da IC, etc., recomenda‑se um início da atividade sexual de modo
lento e progressivo, de forma a exigir menor dispêndio de energia como ocorre
em relação às demais atividades que envolvem atividade física, como os exercícios
físicos
1
. Tanto o reportório como a intensidade das atividades vão se modificando
conforme vai ocorrendo a readaptação, desde que não ocorram queixas relevantes.
Um teste ergométrico permite uma individualização da prescrição de
exercício e possibilita uma avaliação visando a evolução para a vida sexual ativa.
Os sintomas cardiovasculares durante as atividades sexuais raramente ocorrem
em doentes que não experimentam sintomas semelhantes durante o teste ergo-
métrico. A princípio, torna‑se razoável a permissão para a vida sexual ativa se o
doente atinge no teste cargas correspondentes a 3 a 5 equivalentes metabólicos
(METs) sem que ocorram anomalias relevantes
2,44
.
Reforçando essa orientação, vale destacar que o risco absoluto de eventos
durante o ato sexual é extremamente baixo (2 a 3 casos por 10 000 pessoas/ano,
por 1 hora de atividade sexual por semana), inclusive porque o tempo gasto na
atividade sexual é muito pequeno quando comparado ao tempo total de risco
2,45
.
A atividade sexual tem sido equiparada a uma carga de exercício que se situa
entre 2‑3 equivalentes metabólicos (METs) na fase pré‑orgásmica e 3‑4 METs
durante o orgasmo, sendo considerada equivalente a caminhar em tapete rolante
com uma velocidade entre 4,8‑6,5 kms por hora ou a subir dois lances de esca-
das
44,46,47
. Portanto, se o doente coronário pode atingir um gasto energético entre
3‑4 METs sem demonstrar isquemia durante o teste ergométrico, os riscos asso-
ciados com a atividade sexual poderão ser considerados desprezíveis
48
.
Doentes com angina leve, em condição estável e que tolerem razoavelmente
o esforço físico, apresentam baixo risco para eventos cardiovasculares desenca-
deados por atividade sexual. São considerados de alto risco os doentes muito
limitados fisicamente, com angina refratária ou desencadeada por esforços físicos
de baixa intensidade. Portanto, doentes com insuficiência cardíaca ou DAC que
não são capazes de suportar cargas de 3 a 5 METs, provavelmente não serão
capazes de realizar esforço necessário para cumprir sem problemas o ato sexual.