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Madalena Teixeira, Ana Isabel Azevedo
recuperação e reintegração social do doente, quer para as consequências econó-
micas, individuais e para a sociedade, que acarretam
2‑4
.
Apesar do progresso técnico no tratamento do enfarte agudo do miocárdio
(EM), nomeadamente, com o recurso generalizado à intervenção coronária percu-
tânea (ICP), a taxa de regresso ao trabalho tem permanecido inalterada ao longo
das últimas duas décadas
2‑3
. De facto, taxas de 72‑92% já eram reportadas há 20
anos, antes da era da reperfusão através de ICP
2‑3
. Estes dados apontam para que
fatores técnicos tenham menos impacto no retorno ao trabalho que variáveis
sociopsicológicas e ocupacionais, que são independentes do progresso técnico
3
.
O retomar da atividade profissional parece depender de vários fatores,
entre os quais variáveis clínicas como a capacidade funcional do doente, a função
cardíaca residual e variáveis psicológicas, mas também fatores não‑clínicos tais
como a idade, a satisfação laboral, o
status
social e económico e a perceção pes-
soal da doença
2
.
Entre os fatores clínicos, a fração de ejeção ventricular esquerda (FE) é um
importante preditor de retorno ao trabalho, estando descritas taxas de retorno
> 95% em doentes com FE >50%
2
.
Os fatores psicológicos estão entre os fatores mais determinantes do
retorno ao trabalho
2‑3
. Cerca de 40‑50% dos casos de ausência laboral não são
explicados por inaptidão física do doente
1‑2
. As alterações psicológicas após
EM são complexas e incluem o medo de recorrência do EM e da morte, sendo
elevada a prevalência de depressão e distúrbios de ansiedade após EM
2
. Episó-
dios depressivos
major
e distúrbios de ansiedade nos primeiros meses após EM
demonstraram ser fatores de risco, potencialmente tratáveis, de não retorno ao
trabalho
1‑2
. Por outro lado, doentes vítimas de EM na ausência de fatores de risco
cardiovascular podem estabelecer uma relação causa‑efeito entre o evento e o
trabalho, que consideram o único fator de risco e associam ao
stress
emocional e
ao esforço físico
3
.
A taxa de não retorno ao trabalho foi descrita como sendo superior em
indivíduos solteiros do que em casados, o que poderá refletir o impacto das res-
ponsabilidades familiares na motivação para o doente regressar ao trabalho. Da
mesma forma, indivíduos que executam trabalhos manuais de elevada intensidade
parecem ter uma taxa menor de regresso ao trabalho, visto que os mesmos são