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Aline Sardinha
víduo e, consequentemente, dos profissionais de saúde que o assistiam. Caberia
ao psicólogo, então, abordar os aspetos inconscientes do doente, de modo a
influenciar indiretamente a motivação. Caso essa intervenção não fosse suficiente,
entendia‑se que razões inconscientes estariam a contribuir para a manutenção
do comportamento prejudicial, ou seja, como resistência. Esse contexto teórico
pressupunha que um doente que não se encontrasse pronto para a mudança
estaria negando a sua condição, resistindo ao tratamento ou sucumbindo a dese-
jos inconscientes de autodestruição e autoboicote. Tais tendências deveriam ser,
assim, abordadas em terapia, a fim de permitir que a motivação espontaneamente
surgisse, trazendo consigo a possibilidade de mudança
3
.
A literatura atual corrobora a ideia de que a tomada de decisão é, essen-
cialmente, um processo governado pela emoção
4
. Ao contrário de antes,
porém, sabe‑se que a emoção que fundamenta a decisão é processada cons-
cientemente. Destaca‑se, então, o conceito de motivação como processo, bem
como a necessidade de se trabalhar com a valência emocional atribuída ao
comportamento a ser alterado. Assim, a ambivalência deixa de representar um
entrave ao tratamento, para se tornar parte necessária do processo de tomada
de decisão e, consequentemente, objeto de intervenção
3
. É neste contexto que
se inserem as estratégias cognitivo comportamentais aplicadas à reabilitação
cardíaca.
Terapias cognitivo‑comportamentais
As terapias cognitivo‑comportamentais (TCC) são um conjunto de abor-
dagens clínicas e estratégias terapêuticas que pressupõem que a maneira como
pensamos e processamos cognitivamente as informações do ambiente interferem
de forma direta nas emoções, na fisiologia e na tomada de decisão comportamen-
tal. Apesar de inicialmente desenvolvidas e validadas para tratar psicopatologias,
as TCCs atualmente são consideradas o
goldstandard
em relação às abordagens
psicoterápicas no tratamento e prevenção de doenças cardiovasculares
5
. Inter-
venções baseadas nas TCC são indicadas, em especial, quando a terapia exige
modificação de comportamentos por parte do doente, a adesão às prescrições