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Aline Sardinha
Psicoterapia: terapias cognitivas e comportamentais
Introdução
O conhecimento médico avança a cada dia de forma impressionante, tra-
zendo possibilidades terapêuticas que aumentam a qualidade de vida e a sobrevida
dos doentes cardíacos. Entretanto, nenhum tratamento pode ser eficaz quando as
suas prescrições não são seguidas. O avanço da circulação de informações cientí-
ficas entre o público leigo e o contato estreito que os doentes costumam ter com
os seus cardiologistas torna provável que a maioria esteja ciente que modificações
de hábitos não‑saudáveis são essenciais ao tratamento. As estatísticas mostram,
contudo, que apenas uma pequena parcela dos doentes consegue aderir às
recomendações médicas e modificar estilos de vida prejudiciais, definitivamente,
sem nenhum tipo de intervenção específica
1
.
Não se sabe ainda que fatores são determinantes para aqueles que conse-
guem realizar tais mudanças a partir apenas do aconselhamento médico. Con-
tudo, o mesmo não parece influenciar os hábitos da grande maioria dos doentes
cardíacos. A discussão sobre as razões lógicas para mudar e a vontade declarada
do doente não são normalmente suficientes para provocar alterações comporta-
mentais significativas. Ao contrário do senso comum, as pesquisas mostram que a
força de vontade – a determinação de modificar um comportamento baseada em
argumentos lógicos – não é um elemento determinante, muito menos essencial
da mudança de estilo de vida
2
.
As antigas teorias da psicologia, como o comportamentalismo e as aborda-
gens existenciais, consideravam a tomada de decisão como um processo mediado
por razões lógicas apenas. A motivação seria uma condição estável,
a priori
, que
permitiria a mudança comportamental. O papel do psicoterapeuta, nesse cená-
rio, estava resumido a fornecer informações e argumentos racionais que funda-
mentassem a decisão de mudar. A psicanálise considerava ainda que a motivação
seria governada por mecanismos inconscientes, que operavam à revelia do indi-