Pedro Silva Cunha
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De facto, estes quatro grupos de medicamentos quando utilizados em con-
junto e no contexto de síndrome coronária aguda conferem um significativo
aumento da sobrevida, que se observa logo aos seis meses de seguimento
5
.
Assim, atualmente existe evidência suficiente do benefício da utilização de
terapêutica beta‑bloqueante nos doentes com cardiopatia isquémica.
Após a ocorrência de enfarte do miocárdio sem supradesnivelamento ST,
diversos estudos demonstraram a utilidade dos beta‑bloqueantes, observando‑se
uma redução do risco relativo de mortalidade em cerca de 13%, logo na primeira
semana após o evento
6
.
De referir, no entanto, que na fase aguda do enfarte sem supradesnivela-
mento ST, existe um subgrupo de doentes, com elevado risco de evolução para
choque cardiogénico, nos quais não se devem utilizar beta‑bloqueantes dado o
potencial aumento da mortalidade. Este subgrupo, caracteriza‑se clinicamente por
ter idade > 70 anos, frequência cardíaca > 110 bpm e pressão arterial sistólica
< 120 mmHg
7
. Logo, nas fases iniciais do tratamento hospitalar dos doentes com sín-
drome coronária aguda, é fundamental a avaliação da função ventricular esquerda.
No que respeita ao enfarte agudo do miocárdio com supradesnivelamento
do segmento ST, mantém‑se atual a recomendação de utilização de medicação
beta‑bloqueante na fase crónica. Não obstante a maioria dos ensaios clínicos
terem sido realizados na era pré‑utilização das modernas técnicas de reperfusão
coronária, existe evidência da redução da mortalidade e do re‑enfarte neste con-
texto, sendo expresso nas linhas de orientação da Sociedade Europeia de Cardio-
logia de 2015, que o tratamento oral com beta‑bloqueantes deve ser considerado
em todos os doentes – que não apresentem contraindicações ‑ com enfarte do
miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST durante o internamento e
continuado após a alta
8
.
A partir do conhecimento da fisiopatologia da insuficiência cardíaca, em que
ocorre ativação dos mecanismos neurohormonais
9
, nomeadamente do sistema
nervoso simpático, reconheceu‑se o potencial benefício do bloqueio beta‑adre-
nérgico.
A terapêutica beta‑bloqueante foi estudada em doentes com insuficiência
cardíaca
10,11
, observando‑se que a sua utilização conduzia a melhoria sintomática
e aumento na sobrevida.