243243
Mário Oliveira
Antiarrítmicos
Apesar dos significativos avanços verificados nas modalidades de inter-
venção não farmacológica no tratamento das arritmias (incluindo técnicas de
pacing
cardíaco, dispositivos implantáveis para cardioversão‑desfibrilhação auri-
cular e/ou ventricular e ablação por cateter), os fármacos antiarrítmicos (FAA)
permanecem uma alternativa terapêutica
major
no tratamento das diferentes
arritmias, quer como opção de primeira linha, quer em combinação com moda-
lidades não farmacológicas (terapêutica híbrida), tendo por finalidade o controlo
da sintomatologia relacionada com as arritmias e o aumento da sobrevida. O
recurso a FAA deve ser individualizado, tendo em conta o tipo de arritmia clí-
nica e respetivo mecanismo subjacente (automatismo anormal, atividade
trigger
com pós‑potenciais, ou reentrada), o modo (e local) de ação e farmacocinética
dos FAA (Tabela I), bem como as características clínicas do doente relativa-
mente ao qual é necessário definir a estratégia de abordagem terapêutica. Os
FAA são frequentemente utilizados na ausência de cardiopatia subjacente, mas
a elevada prevalência de arritmias no contexto de disfunção ventricular, doença
isquémica do miocárdio ou doença valvular, nomeadamente no que se refere à
fibrilhação auricular (FA),
flutter
/taquicardia auricular (FLA) ou arritmias ventri-
culares, torna, cada vez mais, pertinente o reconhecimento do risco‑benefício
dos FAA na prática clinica. As modificações introduzidas por estes fármacos nas
propriedades eletrofisiológicas do músculo cardíaco (nomeadamente na condu-
tibilidade, refratariedade, automatismo e excitabilidade) e no potencial de ação
contribuem para os efeitos pro‑arrítmicos, com possibilidade de aumento da
mortalidade, quando utilizados inadequadamente em populações de risco, pelo
que o objetivo de manter o ritmo sinusal (RS) não deve descurar os eventos
adversos inerentes à utilização crónica desta terapêutica, em particular man-
tendo vigilância regular da função hepática, função renal e alterações eletrolíti-
cas em doentes idosos, sobretudo se existe disfunção sistólica ventricular e/ou
cardiopatia iquémica.