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Mário Oliveira
No âmbito dos programas de reabilitação cardíaca após enfarte do miocár-
dio (EAM) ou na insuficiência cardíaca crónica (ICC), a FA, o FLA e as arritmias
ventriculares, sobretudo em doentes com disfunção sistólica ventricular portado-
res de cardioversor‑desfibrilhador (CDI) ou sistema de ressincronização cardíaca,
são o tipo de arritmias mais comuns ou mais preocupantes, implicando informação
prática relativa à utilização dos FAA nestas situações, que é o objetivo deste texto.
Antiarrítmicos para conversão de FA e manutenção do ritmo sinusal
A FA é considerada uma epidemia em crescendo à escala global, mercê do
envelhecimento da população, da maior sobrevida nas diferentes doenças do foro
cardíaco, e da coexistência de fatores de risco cardiovasculares e outras comorbili-
dades
1
. Constitui a arritmia mais comum na prática clínica, atingindo 2,5% da popula-
ção acima dos 40 anos
2
, valores que aumentam na presença de hipertensão arterial,
doença valvular, diabetes, obesidade, apneia do sono
3
e na cardiopatia isquémica e
ICC, onde a FA coexiste frequentemente, com impacto prognóstico desfavorável
4,5
.
A longo prazo, o tratamento com FAA visa o controlo do ritmo, controlo da
frequência, alívio dos sintomas, prevenção do tromboembolismo e o tratamento
de comorbilidades associadas.
A medicação antiarrítmica tem sido usada como a primeira opção no trata-
mento da FA (para conversão de FA de início recente, para prevenção das recor-
rências e para controlo da frequência cardíaca). Na abordagem dos casos com FA
de início recente, a presença de instabilidade hemodinâmica permite a utilização
de cardioversão elétrica ou de FAA, dependendo a escolha da presença ou não
de cardiopatia estrutural, patologia associada e sua gravidade.
A eficácia na conversão a ritmo sinusal (RS) é limitada dependendo marcada-
mente da duração da arritmia, podendo variar entre 70‑80% de sucesso nas pri-
meiras 24h após início da FA e <20% quando a arritmia tem mais de 1 semana
6,7
.
O ibutilide, de uso exclusivamente endovenoso, é considerado o FAA com maior
capacidade para conversão a RS (com eficácia também demonstrada no
flutter
auricular). A dose administrada é de 1‑2 mg durante 10 minutos, dependendo
a taxa de sucesso da duração da arritmia. Este fármaco sendo, neste âmbito,
claramente superior à flecainida, dofetilide, propafenona, amiodarona ou sotalol
associa‑se, no entanto, a um risco de
torsade de pointes
, em particular nos primei-