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Manuela Abreu, Sofia Barbosa, Ricardo Prata
Antidepressivos e ansiolíticos em doentes cardíacos
A cardiopatia isquémica tem elevada co‑morbilidade com a depressão
major.
A associação entre depressão e mortalidade cardíaca pós‑EAM tem sido
demonstrada, ao longo dos anos, por diversos estudos
1‑5
, datando os primeiros,
da década de 90. Um aspeto importante a salientar é que o aumento de risco
de morte por complicação cardíaca ocorreu não só nos doentes com episódio
depressivo
major
mas também naqueles que apresentavam sintomas depressivos,
ligeiros a moderados.
Estudos mais recentes
6‑8
demonstraram um risco aumentado de mortali-
dade, de causa cardíaca, 2,0 a 2,5 vezes superior, em doentes com depressão
relativamente aos doentes não deprimidos. Colocou‑se, então, a questão «de
que modo» é que a depressão afetaria a mortalidade, de causa cardíaca, ou seja,
que mecanismos subjacentes à depressão estariam implicados nesse aumento da
mortalidade. Aqui, a resposta divide‑se em duas partes: as alterações biológicas e
as comportamentais. Na primeira, a depressão associa‑se a alterações fisiopato-
lógicas, mediadoras do aumento de risco de novos eventos coronários e conse-
quente agravamento do prognóstico da doença isquémica, designadamente, hipe-
ratividade do eixo hipotálamo‑hipofisário‑suprarrenal, hiperatividade do sistema
simpático‑medular, alterações da função plaquetária, redução da variabilidade da
frequência cardíaca, isquemia miocárdica e instabilidade ventricular em resposta
ao
stress
psíquico, inflamação e disfunção endotelial
9‑11
. Na segunda, o contributo
da depressão no prognóstico destes doentes faz‑se sentir não só na não adesão à
terapêutica farmacológica mas também na incapacidade de alterar comportamen-
tos de risco cardiovascular.
A depressão pode atrasar a recuperação e agravar assim o risco de mortali-
dade cardíaca, através da não comparência às consultas médicas e da não adesão à
terapêutica farmacológica ou ao programa de reabilitação
12
. Um doente deprimido
tende a ter maior dificuldade em adotar um estilo de vida mais saudável, designa-
damente no que concerne aos hábitos tabágicos, à dieta e/ou ao sedentarismo.