27227
Pedro Marques da Silva, Carlos Aguiar
venção
62
. Assim, a monitorização periódica da função renal, como medida de
segurança, não está indicada e não tem justificação. Um aumento eventual da
creatinina deve fazer pensar numa rabdomiólise não diagnosticada e não numa
qualquer remota disfunção renal iatrogénica
48
.
D. Outros efeitos adversos
Finalmente, têm sido apontados muitos outros efeitos adversos às estatinas:
perturbações do sono, alterações cognitivas e psiquiátricas, disfunção eréctil ou
neuropatia periférica, mas que não têm sido, especificamente, relacionados com a
terapêutica intensiva redutora do colesterol, nem têm sido validados em estudos
aleatorizados adequados. Perturbações cognitivas diversas (amnésia, dificuldades
de concentração, confusão e alterações nos testes neuropsicológicos) têm sido
notificadas e atribuídas às estatinas. É central que as notificações espontâneas
não atestam causalidade. A evidência atual disponível não afirma qualquer relação
com potenciais efeitos adversos cognitivos, no entanto, o clínico não deve descu-
rar esta situação e, face a qualquer alteração menos óbvia, deve avaliar, afirmar ou
infirmar a sua relação com as estatinas e excluir – de forma sistemática – outras
possíveis causas potenciais
63, 64
.
Tem também havido algumas notificações de neuropatia periférica, predo-
minantemente sensitiva, associada ao tratamento prolongado com estatinas (em
doentes tendencialmente mais idosos). O tema é controverso, porque, por outro
lado, é sublinhada uma redução do risco, com as estatinas, na ocorrência de neu-
ropatia diabética
65
.
Tema recorrente: o desenvolvimento de cataratas em doentes tratados com
estatinas (afirmados nos estudos de toxicidade pré-clínica, em cães). Estudos de
coortes recentes vieram, de novo, sugerir esta associação
9, 16
. Singularmente, foi
também ponderado um possível protetor das estatinas no risco de um tipo parti-
cular de catarata (catarata nuclear). São, pois, necessários novos dados esclarece-
dores destes possíveis efeitos adversos. Entretanto, nada pode ou deve substituir
o papel do médico e a sua centralidade na farmacovigilância e no reconhecimento
da segurança das estatinas.