Manuel Oliveira Carrageta, Pedro Marques da Silva
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E, no entanto, a idade cronológica continua a ser um preditor útil de morbi-
lidade e mortalidade, tendo como denominador comum o aumento de problemas
de saúde associados com o avançar da idade (embora com ritmos diversos de
indivíduo para individuo). Os doentes mais idosos são uma população heterogé-
nea em termos de envelhecimento, aptidão física, função cognitiva e social. Por
isso, tem‑se tentado desenvolver uma definição mais objetiva de idade biológica,
de modo a dispormos de um preditor mais rigoroso do envelhecimento
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.
A base molecular das alterações fisiológicas (e fisiopatológicas) arroladas
à idade têm sido motivo de franca investigação. Os processos de seleção natu-
ral, com favorecimento dos genes benéficos à reprodutividade da espécie, não
parecem desempenhar um papel significativo nas fases mais tardias da vida. Além
disso, é possível que alguns dos processos fisiológicos favoráveis em idades mais
jovens possam ser menos interessantes (ou até prejudiciais) em idades mais avan-
çadas (num fenómeno conhecido por «antagonismo pliotrópico»). Alguns traba-
lhos sugeriram que a restrição calórica – em parte relacionada com a modulação
da proteína alvo da rapamicina nos mamíferos (
mTOR
), reguladora da distribuição
de nutrientes – fosse uma das formas mais conseguidas para aumentar a sobre-
vivência e obstar às mudanças relacionadas com a idade. No entanto, os últimos
estudos, em primatas não humanos, têm sido menos promissores, sem resultados
significativos no prolongamento da esperança de vida
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.
O encurtamento dos telómeros tem, atualmente, sido referido como causa
de vulnerabilidade celular, de desregulação e danos no ADN e de envelhecimento
(com consequente substituição inadequada de células danificadas ou mortas) e
alteração dos seus aspetos funcionais. Os telómeros são as estruturas consti-
tuídas por fiadas repetitivas de proteínas e ADN não codificado, presentes nas
extremidades dos cromossomos eucarióticos, e que mantêm a sua estabilidade
estrutural e contrariam a sua degradação. A natureza multifatorial da regula-
ção do comprimento dos telómeros é motivo de grande atenção, dada a mar-
cada variabilidade entre espécies e entre indivíduos da mesma espécie (ainda que
pareça estar intimamente relacionada com a esperança de vida individual, maior
nas mulheres do que nos homens e inversamente relacionada com a idade cro-
nológica). A acelerada perda do comprimento dos telómeros tem sido associada