Avaliação da idade biológica
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ao envelhecimento prematuro ou à senescência celular, sustentada na inflamação
crónica e no aumento do
stress
oxidante e o dano das extremidades teloméricas
do ADN podem constituir substrato de iniciação dos processos relacionados
com as doenças crónicas do envelhecimento
8
.
Curiosamente, tanto os fatores de risco CV «clássicos», como as doenças
CV mais comuns (e.g. aterosclerose, insuficiência cardíaca e hipertensão arterial),
estão associados à redução do comprimento dos telómeros leucocitários, ainda
que seja prematuro afirmar qualquer possível nexo de causalidade. A dimensão
dos telómeros não satisfaz todos os critérios exigíveis para a considerar como
um biomarcador de envelhecimento, no entanto, parece comportar‑se como
um fator prognóstico acrescido à idade cronológica, passível de ser considerado
como um marcador de envelhecimento CV
9
.
A aquisição pelas células senescentes de um fenótipo particular,
fenótipo
secretor associada a senescência
(SASP), determina uma vasta gama de efeitos
autócrinos e parácrinos reparadores teciduais (com libertação de citoquinas pró-
‑inflamatórias e outros fatores potencialmente deletérios) e uma modulação da
atividade das células normais locais que, paralelamente, acabam por sustentar
diversas alterações degenerativas e proliferativas contributivas da doença CV
8, 9
.
Um outro elemento frequentemente referido e também intensamente estu-
dado deriva da ativação do gene p53, aquando da lesão danosa do ADN, com
o desencadear de vários processos moleculares que afetam a função e viabili-
dade celular: a interrupção do normal crescimento e divisão celular (com apop-
tose celular em tecidos com renovação rápida); a repressão dos coativadores do
PPAR‑
γ
(
peroxisome proliferator‑activated receptor gamma
): PGC
1‑
α
e PGC
1‑
β
(com
perturbação e perda da função mitocondrial, geração de radicais livres e afetação
dos sistemas antioxidantes)
10
.
Fácil, pois, é entender que a avaliação da idade biológica não é tarefa fácil e
continua envolta em controvérsia. Muitos investigadores têm tentado avaliar o
envelhecimento biológico recorrendo a variáveis fisiológicas que se diversificam
com a idade, a que apelidaram de «biomarcadores de envelhecimento» (Tabela
I)
4, 11
, obtidas a partir de grandes bases de dados epidemiológicas e clínicas
5,6
. No
entanto, em todos os casos, a variabilidade constatada nestes é considerável,