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Pedro Marques da Silva, Carlos Aguiar
terapêutica imunossupressora. O diagnóstico é feito por biópsia muscular e pela
presença de anticorpos anti-HMGCR
51
.
B. Efeitos no metabolismo da glicose (diabetes)
As estatinas podem influir no metabolismo da glicose e favorecer o desen-
volvimento de diabetes tipo 2 (DMT2) em não diabéticos – em particular, nos
indivíduos com níveis elevados de glicemia em jejum (> 100 mg/dl) ou HgbA
1c
>
6%, índice de massa corporal (IMC) > 30 kg/m
2
, presença de síndrome metabólica
ou HTA – ou afetar o controle glicémico em doentes diabéticos
56
. No entanto, o
risco a curto prazo de desenvolvimento de DMT2, sem os fatores de risco aludi-
dos, é negligenciável, autónomo da dose e da estatina usada. É, também, possível
a contribuição de fatores residuais de confusão (e. g. a ingestão de calorias e de
gorduras e o aumento ponderal tendem a ser maior nos doentes a fazer estatinas)
nesta associação
57
.
Os estudos experimentais acerca do efeito das estatinas – e de cada uma
delas em particular – na resistência à insulina, no metabolismo da glicose, no risco
incidente de DMT2 e nos processos fisiopatológicos subjacentes não têm sido
consistentes (ainda que seja aparente um efeito dependente de dose
58
, suporte
de uma razoabilidade biológica que urge esclarecer). Em 2015, uma meta-análise
confirmou o risco aumentado de DMT2 com as estatinas (OR 1,11; IC 1,03-1,20)
e o efeito aumentado da terapêutica intensiva (OR 1,12, 1,04-1,22). Uma análise
complementar de aleatorização mendeliana aventou que o risco de DMT2 está
arrolado à redução da atividade de HMG-CoAR (e, consequentemente, com
o local de ação farmacológica das estatinas)
59
. Um outro estudo sugere que a
redução (ou a não expressão) do LDLR – base fisiopatológica da forma mais
prevalente de hipercolesterolemia familiar (FH) – está ligada a um menor risco
de DMT2
60
.
A prescrição de uma estatina passa pela justa avaliação da relação de bene-
fício e risco (Figura 5). Face à melhor evidência científica, os benefícios das esta-
tinas superam largamente o pequeno risco absoluto de DMT2 em doentes com
risco CV elevado (e.g. doentes diabéticos ou com síndrome metabólica)
56
.