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Estatinas e outros antidislipidémicos
seguinte, a intervenção apenas «atrasa» os eventos CV, potencialmente fatais, a
que o doente está predisposto. Para «evitar» eventos CV será mesmo necessário
parar a progressão da aterosclerose, ou seja, manter o LDL-C < 70 mg/dl. Na
perspetiva da prevenção, «evitar» é melhor que «atrasar».
As estatinas são os fármacos de eleição para reduzir o risco CV atribuível
à dislipidemia porque são os que permitem obter maiores reduções do LDL-C e
tem um perfil de segurança e tolerabilidade superior às outras classes de antidis-
lipidémicos. A ESC recomenda que as estatinas sejam utilizadas em monoterapia
e em doses otimizadas, reservando as combinações de fármacos antidislipidé-
micos para casos selecionados nos quais a monoterapia não permitiu alcançar
o objetivo para o LDL-C. Nos doentes com risco CV muito elevado, se não for
possível alcançar um LDL-C < 70 mg/dl, deve então tentar-se uma redução de,
pelo menos, 50% no LDL-C.
A escolha da estatina e da dose deve ser baseada na dimensão da redução de
LDL necessária para alcançar o objetivo terapêutico. O uso de doses inadequadas
de estatina, frequentemente menores do que as testadas em ensaios clínicos,
é uma das razões da baixa taxa de controlo do LDL-C observada em estudos
epidemiológicos
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. Por outro lado, a maioria dos doentes tratados que não estão
dentro do objetivo recomendado para o LDL-C continua a tomar a mesma dose
da mesma estatina («inércia clínica»). O repto da adesão a longo prazo à tera-
pêutica antidislipidémica justifica a recomendação para a reavaliação precoce aos
três meses após o início do tratamento, e a cada 6-12 meses depois de atingir o
objetivo terapêutico.
Um estudo recente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia – estudo
VIVA
– avaliou o risco de DCV da população portuguesa adulta residente no territó-
rio continental. Participaram no estudo 10 008 indivíduos de 44 concelhos. O
VIVA estimou que um em cada quatro portugueses tem risco de DCV elevado
ou muito elevado. Apenas 30% dos doentes com DCV estabelecida ou diabetes
tomam um antidislipidémico (mais comummente a sinvastatina em monoterapia).
Entre os doentes com DCV ou diabetes tratados com antidislipidémicos, só 22%
têm o CT dentro dos valores recomendados. São muitas oportunidades perdidas
para evitar as DCV em Portugal!