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Estatinas e outros antidislipidémicos
criteriosamente obtida em todos os doentes com queixas sugestivas ou com um
risco maior de perturbações musculares. É fundamental o médico estar atento às
queixas musculares nos doentes em tratamento. O surgimento de sintomas mus-
culares, clinicamente importantes, mesmo sem subida enzimática, pode obrigar a
parar, ainda que temporariamente, o tratamento (sobretudo se houver aumento
marcado da CK – mesmo se assintomático –, agravamento da função renal e/ou
necessidade de hidratação intravenosa)
48
. A relação temporal com o início do
tratamento – nas primeiras quatro semanas – sugere uma possível relação cau-
sal
50
. Além disso, geralmente, as queixas são simétricas, de predomínio proximal
(cintura escapular e pélvica e membros inferiores proximais, gémeos). As queixas
musculares (dor, sensibilidade, rigidez ou cãibra muscular; fraqueza muscular ou
sensação de peso durante o esforço), tendem a ser mais frequentes depois da
prática de atividades físicas, em especial se extenuantes. Firmada nestas caracte-
rísticas foi proposto um
score
de suspeição clínica das mialgias relacionadas com
as estatinas
54
.
De modo a harmonizar definições e a acautelar discrepâncias, foram pro-
postos sete fenótipos da miotoxicidade induzida pelas estatinas, facilitadores
da abordagem clínica substanciada
55
: a elevação assintomática da CK < 4 x LSN
(
SMRE 0
), a mialgia tolerável (
SMRE 1
: sintomas musculares sem elevação da CK)
e a intolerável (
SMRE 2
: sintomas musculares CK < 4 x LSN e completa reversão
com a suspensão do tratamento), a miopatia moderada (
SMRE 3
: elevação da CK
> 4 x LSN < 10 x LSN ± sintomas musculares e resolução completa com a para-
gem do tratamento) e a miopatia grave (
SMRE 4
: elevação da CK > 10 x LSN <
50 x LSN, sintomas musculares e resolução com a interrupção do tratamento),
rabdomiólise (
SMRE 5
: elevação da CK > 10 x LSN com disfunção renal + sin-
tomas musculares ou CK > 50 x LSN) e miosite necrotizante autoimune (
SMRE
6
: anticorpos anti-HMGCR, com expressão histológica e resolução incompleta).
Num limitado e raro (dois por milhão ano) subgrupo de doentes, tenden-
cialmente mais idosos, foi identificada uma miopatia necrotizante autoimune pro-
gressiva (IMNM) associada a autoanticorpos anti-HMGCR, com níveis elevados
de CK e que recebiam estatinas há muito tempo (média de três anos). Os sinto-
mas persistem, apesar da paragem do tratamento, e, frequentemente, obriga a