32432
Teresa Gomes Mota
Na última semana foi consultado por um doente que tinha tido um enfarte
de miocárdio há quatro meses e que vinha com a pressão arterial muito elevada.
Tinha interrompido toda a medicação por motivos económicos. B pediu a colabo-
ração do assistente social e refez a prescrição no sentido de minimizar os custos.
Estratégias que resultam sempre
As mais universais e transversais de todas as estratégias para a adesão ao
tratamento são a empatia e a disponibilidade de tempo.
Empatia é a base da relação médico (profissional de saúde) ‑ doente, e pro-
move a adesão a consultas, diagnósticos e terapêuticas, facilita a monitorização,
estimula a franqueza do doente em relação a eventuais quebras da adesão, a pro-
cura de soluções e a participação ativa do utente no seu processo terapêutico.
Tempo de qualidade, dedicado ao doente, sem interrupções, sem ruído, sem
pressa, é um recurso cada vez mais exíguo e, no entanto, absolutamente fundamental.
Estratégias que resultam... ao contrário!
Forçar um tratamento que o doente não quer, ou não acha aceitável: argu-
mentar, insistir, ameaçar com complicações e desgraças, adoptar uma atitude
autoritária, criticar negativamente, usar jargões técnicos, desvalorizar os conhe-
cimentos e opiniões do doente, falar sem olhar o doente
26,38,39
.
Estratégias específicas para o tratamento farmacológico
No que diz respeito à terapêutica farmacológica os doentes fazem frequente-
mente aumentos e reduções de doses e de números de tomas, acrescentam medi-
camentos de venda livre, ou de familiares e amigos e fazem terapias de ervanárias ou
naturais que não reportam espontaneamente ao médico; além disso, podem fazer
confusão com as prescrições, com a mudança de marcas, deixam acabar os medica-
mentos, adiam a sua compra por motivos económicos; interrompem a medicação
porque melhoraram ou pioraram, por medo de dependência ou de efeitos secundá-
rios mencionados na bula, ou para poderem beber álcool, ou porque pensaram que
o tratamento era apenas temporário. Finalmente, em algum momento no curso de
uma doença crónica, a maioria das pessoas experimenta parar de tomar a medicação.