Prevenção e Reabilitação Cardiovascular - page 324

3232
Teresa Gomes Mota
glicemia capilar, diários alimentares, diários de atividade física, pedómetros, etc.);
pode‑se questionar diretamente o próprio doente ou o acompanhante sobre a
adesão; podem‑se avaliar parâmetros que resultam da adesão como níveis sanguí-
neos de um medicamento ou de um marcador inerte a ele associado, Hemoglo-
bina A1c, lípidos sanguíneos, INR, peso, perímetro abdominal, capacidade funcio-
nal (teste de marcha, VO
2
máx), etc.
Estudos demonstram que os profissionais de saúde têm uma perceção nem
sempre correta da adesão dos seus doentes aos tratamentos prescritos, fazendo
por norma, uma sobrestimação da adesão real
14,15
.
A responsabilidade do prescritor na adesão ao tratamento
A medicina tem vindo a abandonar uma postura paternalista, na qual o
médico era procurado apenas em situações consideradas graves, para realizar
diagnóstico e prescrição. A linguagem médica era com frequência incompreensí-
vel para o doente, que procurava cumprir as indicações. O doente não tinha por
princípio questionar o médico, de forma a poder ser parte ativa do tratamento
e ultrapassar o medo. E se, em contexto de situação aguda, como o acidente
coronário agudo, o doente ainda espera do profissional essa atitude diretiva e
entrega‑se de forma passiva aos cuidados da equipa de saúde com o objetivo de
poder sair rápida e eficazmente da situação de crise, o mesmo não acontece para
a maioria das patologias que levam os doentes a requerer cuidados de saúde.
Assim, passada a fase aguda, a doença muitas vezes subsiste na forma de croni-
cidade, frequentemente assintomática, ou de agravamento insidioso; profissionais e
utentes vivem agora num novo mundo de comunicação facilitada, com informação
especializada facilmente acessível a toda a gente (de difícil distinção entre a credível
e a falsa), com partilha em redes sociais, e questionamento frequente da autori-
dade médica; com tempo cada vez mais reduzido dos profissionais de saúde para
consultas, custos crescentes da saúde e imperativos da sua contenção, desafios
da multiculturalidade, «concorrência» de outras medicinas para além da alopática.
Neste contexto, deve o médico optar por investir o seu tempo num exercí-
cio mais técnico de diagnóstico e formulação da prescrição e deixar o problema
da adesão ao critério do doente?
1...,314,315,316,317,318,319,320,321,322,323 325,326,327,328,329,330,331,332,333,334,...404
Powered by FlippingBook