Alberto José de Araújo
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Introdução
O tabagismo é uma doença crónica recorrente cujo ciclo se inicia ainda na
infância/adolescência e se mantém ao longo da vida adulta. O tabagismo tem‑se
expandindo no mundo contemporâneo como se fosse uma doença «transmissí-
vel» impulsionada por intenso
marketing
– hoje limitado pela Convenção Quadro
da OMS para o Controlo do Tabaco, aos pontos de venda – e promoção junto ao
jovens – público‑alvo da indústria. Isto explica porque 90% dos fumadores come-
çam a fumar antes dos 20 anos de idade, levando a OMS a considerar o tabagismo
como «doença pediátrica» (FCTC ‑ WHO, 2003
2
).
É a maior causa evitável de doenças e mortes precoces em todo o mundo
e um fator de risco para 55 doenças provocadas pela exposição ativa ou passiva
aos componentes do tabaco
3
. Além das clássicas doenças respiratórias e circula-
tórias, pode também ocasionar danos ao material genético celular, tendo como
consequência o cancro em vários órgãos, especialmente nos pulmões.
A nicotina é o componente do fumo do tabaco responsável pela dependên-
cia. É considerada como uma das mais potentes drogas psicoativas, gerando seus
efeitos entre 9‑14 segundos após a primeira aspiração. Mesmo que a maioria dos
fumadores reconheça que o cigarro faz mal à sua saúde, isso não basta para o
abandono do fumo. Este facto representa um grande desafio terapêutico para os
médicos.
Apesar de o conhecimento científico acumulado sobre os riscos do tabaco,
a epidemia tabagística segue crescendo a uma taxa média de 2% ao ano. Nos últi-
mos anos, enquanto nos países desenvolvidos a taxa foi de apenas 10%, nos países
em desenvolvimento alcançou 300% (FAO, 2003
4
).
Segundo dados da OMS, 30% da população adulta mundial é fumadora (1,3
bilhões), distribuída de forma assimétrica, sendo 35% homens e 22% mulheres
nos países desenvolvidos e 50% homens e 9% mulheres nos países em desenvolvi-
mento. Se a atual prevalência global permanecer inalterada, estima‑se que em 2025
poderá alcançar a 1,7 bilhão de pessoas, concentrando‑se nos países em desenvol-
vimento, nas classes sociais com baixa rendimento e no género feminino
5,6
.
O tabaco mata mais do que a soma dos eventos fatais decorrentes da SIDA,
acidentes de trânsito, uso de drogas ilícitas, homicídio e suicídio. Os números da