Fatores de risco não modificáveis – história familiar ou genética
77
Genética
As DCV apresentam uma etiologia complexa, envolvendo fatores genéti-
cos, ambientais e comportamentais. Nos últimos anos, o esforço desenvolvido
pela investigação científica e o progresso a nível tecnológico, permitiram avan-
ços extraordinários no campo da genética, culminando com o mapeamento do
genoma humano. Este feito permitiu relacioná‑lo com determinadas patologias,
nomeadamente com as doenças cardiovasculares, o que facilitou a melhor com-
preensão da base molecular e fisiopatológica das mesmas.
Considerando a base genética das DCV, é necessário distinguir as doenças
raras, mendelianas, onde só um gene com uma mutação é causador da doença;
das doenças complexas, mais frequentes, onde os vários polimorfismos são res-
ponsáveis por determinada patologia
21
.
Dentro das doenças mendelianas, podemos dar o exemplo da Hipercoles-
terolémia Familiar, onde a mutação de um gene que é responsável pela doença,
se associa a um aumento marcado do risco cardiovascular. Esta doença carate-
riza‑se por uma mutação
missense
no gene ApoB ou mais raramente no gene
que codifica a Pro‑proteína convertase subtilisina quexina tipo 9 (PCSK9)
21
.
Esta mutação representa na clínica um aumento dos níveis de colesterol‑LDL
(c‑LDL), associando‑se a EAM em idades jovens. Doentes com estas mutações
têm um risco de mortalidade oito vezes superior em relação à população em
geral
13
.
Por outro lado existem vários polimorfismos que podem aumentar o
risco de DCV. O conhecimento dos mesmos é um instrumento importante
na prevenção, abordagem diagnóstica e tratamento dos doentes. Os polimor-
fismos podem contribuir significativamente para a doença, mas não atuam
isolados. Têm que ser entendidos no contexto clínico, na relação que têm
com outros fatores de risco cardiovascular e através da interação de múltiplos
outros polimorfismos que podem agravar ou atenuar os efeitos, quer bené-
ficos quer prejudiciais. Devido a heterogeneidade provocada pela genética, é
necessário realizar uma análise detalhada de todos os polimorfismos envolvi-
dos na DCV para termos uma estimativa mais precisa do risco cardiovascular
de cada indivíduo
21
. Esta tentativa de abordagem cada vez mais individualizada